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Em Crato, a Chapada do Araripe sofre com as constantes queimadas que devastam a vegetação. (Foto: Wilson Bernardo) |
No Nordeste, o Ceará foi o que registrou maior alta nas ocorrências de queimadas entre outubro e novembro deste ano. No Estado, os episódios contabilizados no mês passado foram 160% superior ao mês anterior, passando de 517 para 829 casos, conforme o monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O total de ocorrências observadas em outubro, novembro e dezembro no Ceará é quase o triplo registrado no restante do ano. No total, até agora, ocorreram 1.912 queimadas, sendo 43 somente nos dois primeiros dias deste mês.
Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe também tiveram ampliação das queimadas entre outubro e novembro, meses que, junto a dezembro, são o período que mais concentra ocorrências do tipo. Isso devido ao intenso uso das queimadas como técnica de preparação do solo para agricultura nos meses que antecedem a estação chuvosa. A propagação do fogo é intensificada pela baixa umidade do solo e do ar, elevação da temperatura e velocidade do vento.
No Ceará, a projeção da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), baseada no histórico das ocorrências, é que em dezembro a quantidade de focos de queimadas seja igual ou superior à registrada em novembro. Em 2013, de novembro para dezembro, houve um recuo de 11% nos registros do tipo. Os casos passaram de 1.081 para 956.
Apesar do histórico apontar aumento ou manutenção dos altos números verificados no mês passado, o meteorologista supervisor da Unidade de Tempo e Clima do Núcleo de Meteorologia da Funceme, Raul Fritz, estima que a previsão de temperatura máxima agora é inferior à projeção feita para outubro. A estimativa atual é que a temperatura máxima no Interior chegue a 36ºC. Em Fortaleza e nas cidades litorâneas, a previsão é que seja, no máximo, 32ºC. Porém, ele ressalta que a sensação de calor é elevada neste período que é de estação pré-chuvosa.
Ele explica também que a velocidade do vento já não é tão intensa quanto a verificada em agosto e setembro, o que impacta na dissipação do fogo. Essa diminuição, segundo Fritz, é devida à proximidade das condições de chuva.
Chuva
O meteorologista afirma ainda que a ocorrência de algumas chuvas na Região do Cariri e no Sertão dos Inhamuns, no mês passado, "animou" agricultores que ainda "atuam baseados na cultura do fogo", a realizar a limpeza dos terrenos através de queimadas, na perspectiva que haverá uma boa média de chuvas e é válida a preparação das áreas para plantio.
Outro fator que pode favorecer a propagação das queimadas é que a previsão climática para o acumulado de chuvas neste mês, em janeiro e fevereiro (período pré-chuvoso) é de 42% de probabilidade das precipitações serem abaixo da média. A estimativa da Funceme projeta também que há 33% de chance das chuvas serem na média e 25% de serem acima da média.
O coordenador estadual do Programa de Prevenção ao Fogo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Curts Bastos, informou que desde 2004, o governo do Estado tem o Programa Estadual de Prevenção, Monitoramento, Controle de Queimadas e Combate aos Incêndios Florestais (Previna), e que o Ibama acompanha o monitoramento feito pelo Inpe.
Conforme ele, os sistemas têm satélites de referência que, na maioria dos casos, apontam precisamente quando os focos de calor refletem queimadas ou incêndios florestais. Neste ano, o satélite meteorológico utilizado pela Funceme registrou 3.856 focos de calor no Ceará. No monitoramento, apenas Meruoca não teve nenhum caso.
O equipamento mede a temperatura de brilho, que segundo a Funceme, é diferente da emissão comum e não tem como comparar com a escala de graus Celsius usada convencionalmente. Nos últimos três anos, os focos de calor têm diminuído no Ceará, sendo 8.112 em 2012 e 6.025 no ano passado.
O representante do Ibama avalia que as queimadas ainda são amplamente utilizadas como técnicas de limpeza do solo no Ceará, embora ao longo dos anos tal mecanismo venham aumentando a degradação da terra. "Antes, falávamos que, quando o solo é queimado e em seguida plantado, ele levaria uns 12 anos para se degradar. Hoje, esse prazo é de três anos", garante.
Ele esclarece que as queimadas podem ser utilizadas quando são demandadas pelos agricultores ao município e autorizadas pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), porém a maior parte das ocorrências não tem esta autorização, e o uso do fogo sai do controle. "Hoje, 30% dos focos de incêndios são gerados pelas queimadas. Nas áreas industrializadas, a queima de lixo também resulta nestes sinistros".
Em cidades como Caucaia, Granja, Acopiara e Mombaça, ele aponta que o uso do fogo como técnica de limpeza ainda é recorrente. Chama atenção também, segundo Curts, a falta de estrutura de inúmeros municípios para combater esses incêndios. "Temos um bioma muito vulnerável ao fogo, que é a catinga. Em geral, dadas as características, essa chama começa em um município e vai acabar em outros", ressalta.
Mais informações
Municípios podem solicitar ao Ibama capacitação sobre uso do fogo pelo e-mail: prevfogo.ce@ibama.gov.br
Denúncias podem ser feitas pelo telefone: 0800-61-8080
Denúncias podem ser feitas pelo telefone: 0800-61-8080
Fonte: Diário do Nordeste